quarta-feira, 12 de junho de 2013

Como nasce uma lenda? O adeus a Sólon do Valle


Para muitos engenheiros, o mundo do áudio pode ser algo extremamente técnico, com centenas de cálculos, medições de onda sonora, mas pouca, ou nenhuma, musicalidade. Já no mundo do áudio de um “determinado” engenheiro chamado Sólon do Valle, áudio, música e tecnologia (um nome bem sugestivo para o legado que ele nos deixou) comungavam lado a lado, em perfeita comunhão; uma espécie de sintonia que ligava esses três universos de forma suave. Infelizmente, nosso querido mestre, guru, ou “Pai Sólon”, como eu já o vi sendo chamado, nos deixou na madrugada de sábado, em um movimento discreto, assim como sua franzina e frágil aparência física, porém que guardava uma grandiosidade que parecia não caber dentro si. 

Não vou usar aqui os termos “morte”, “falecimento”, ou algo parecido, apesar de já os ter citado agora, pois não foi essa a sensação que tive no momento de sua despedida. Vai-se o corpo, fica a lenda. Fica a imagem de alguém que realmente foi realizado naquilo que fez. Foi pleno! Sólon foi uma referência máxima em acústica no Brasil, um ponto de encontro quando o assunto era simpatia transmitida em abundância. Sujeito do riso fácil! Era notório seu grande amor pelo áudio, pela tecnologia, e, principalmente, por música. 

Tive recentemente a chance de trabalhar com ele durante um ano como editor de jornalismo na revista Áudio Música & Tecnologia, da qual o mestre era editor técnico e fundador. Inevitável o quanto essa experiência tornou meu trabalho como jornalista da área de tecnologia musical mais completo. Não falo isso somente pela carga de conhecimento adquirida, e sim pelo contato com sua sensibilidade realmente contagiante e olhar aguçado. Inúmeras foram as vezes em que, após falar ao telefone com ele, eu dizia “o Sólon é gente boa demais”. Os repórteres já me olhavam rindo, pois a expressão virara um bordão na redação. 

Sem ele, cria-se uma lacuna cujo preenchimento será difícil de acontecer. Sim, pode ser que no campo técnico demore a nascer outro Sólon do Valle no mercado de áudio, ou, talvez, isso nem aconteça. O mundo certamente ficará menos audível sem sua presença. Se a partir de agora, nas noites de chuva, os trovões soarem com menos reverberação, tenha certeza de que há o dedo do Sólon nessa história. Descanse em paz, meu amigo, com muitos solos de guitarra, Rock`n Roll e, quem sabe, fazendo bons tratamentos acústicos nas nuvens de onde estiver. 

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